terça-feira, 11 de maio de 2010

Transnordestina faz vítimas em Coroatá e BR-222

Os trens que cortam o Nordeste seguem sempre carregados. Mas ao cruzar cidades e vilarejos, os vagões não levam só mercadoria. Levam o perigo também. O trem anuncia o perigo, mas a criança ignora o risco. O comboio – com toneladas de produtos inflamáveis – cruza o vilarejo no quintal das casas. Mateus Lima estava brincando nos trilhos e não viu a locomotiva. Foi há três anos e nunca superou o trauma.
“No dia que eu vi o trem passando por cima dos meus pés foi muito difícil”, lembra o estudante. “Eu escutei um grito dele lá na linha, chamando meu nome”, recorda a dona de casa Maria das Dores Lima. O trem mudou o destino de Solaio Silva Pires. “Muitos planos que eu tinha para o futuro, se acabaram”, diz o estudante.
O número de acidentes nas ferrovias brasileiras surpreende. Foram 170 só este ano – segundo a Agência Nacional de Transportes Terrestres. Foram 46 na Transnordestina, a ferrovia que cruza sete estados – desde o Maranhão até Alagoas.
A maioria dos acidentes acontece durante as manobras do trem. Nesta região, por exemplo, várias ruas foram bloqueadas para o serviço de carga e descarga dos vagões. A locomotiva carregada de combustível divide a cidade ao meio. Os 56 mil habitantes de Coroatá – no leste do Maranhão – têm que se arriscar por baixo e por cima de vagões. “As pessoas ficam querendo atravessar e não conseguem”, argumenta a professora Benedita Gama.
O perigo é ainda maior à noite. O trem cruza a Rodovia 222 no meio da escuridão. O filho de Dona Benedita viajava de moto e morreu no choque com o trem.“A luz que fica lá é muito ruim. Ele não viu o trem e bateu”, revela a professora. Jaciara Betânia não se conforma com a morte do marido. O bancário Lourival Neto também morreu no cruzamento da BR com a ferrovia.
“A gente tinha uma vida estável, uma vida de conforto. Meus filhos também. Aí, de repente muda assim de uma hora para outra”, lamenta a dona de casa.

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